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MESAS-REDONDAS

Mesa-redonda 1: Balaiada: memória e historiografia

As Representações da Balaiada na Memória do Estado

Prof. Dr. Josenildo de Jesus Pereira (UFMA)

Na historiografia brasileira, é corrente a compreensão que a Balaiada foi um amplo movimento de lutas que envolveu jornalistas, proprietários de terras, escravos, comerciantes, camponeses e autoridades públicas, ou seja, diferentes sujeitos sociais com os seus específicos objetivos. Este movimento, começou na Vila da Manga, em 1838, na província do Maranhão, mas se ampliou pelas províncias do Piauí e do Ceará, no contexto de configuração política do Estado Nacional, sob a égide do Império brasileiro. As autoridades públicas com o propósito de acabar com este movimento, em sua dimensão popular, prendendo e matando os escravos e camponeses e, sobretudo, os seus líderes, produziu, também, a sua memória relativa a este movimento por meio de documentos públicos – cartas, ofícios, inquéritos, relatórios. Estes, têm sido usados por historiadoras e historiadores brasileiros e estrangeiros para reconfigurarem a Balaiada. No entanto, ainda está por ser feita, um exame crítico acerca de sua constituição material e simbólica quanto ao seu significado no tempo de emergência e desenvolvimento da Balaiada, bem como para o futuro, porque deles têm sido dadas repostas às problemáticas formuladas constituindo a sua historiografia. Trata-se, então, de uma importante ação porque possibilitará que se compreenda o sentido destas “fontes” no seu duplo contexto, ou seja, o tempo do evento e o da escrita, no depois, por historiadoras e historiadores.

A Balaiada: Memória e Historiografia

Profa. Dra. Sandra Regina Rodrigues dos Santos (UEMA)

A Balaiada foi o maior movimento de revolta ocorrido no Maranhão no século XIX, a partir de 1838, estendendo-se até 1841, e continua sendo um tema sempre instigante que ao longo desses quase 185 anos vem despertando o interesse de estudiosos de vários campos, com destaque para os historiadores, o que justifica a vasta produção sobre o tema, seja como objeto de memórias e produções historiográficas. Entre as memórias que tratam sobre a Balaiada, destaco duas, a primeira sobre o depoimento de um dos heróis do cerco de Caxias sobre a “Revolução dos Balaios”, de autoria de Rodrigo Otávio, contada pelo lado do vencedor, Ricardo Leão Sabino, como alguém que testemunhou “e participou presencialmente desta guerra nos campos de batalha”, narrativa que foi publicada pela Imprensa Nacional em 1942. Outra memória de destaque encontra-se na obra “O Cativeiro”, de autoria de Dunshee de Abranches, que nos capítulos XIV e XV traz as memórias de D. Martinha Alvares de Castro Abranches sobre a Balaiada, em cartas ao censor entre os anos de 1838 a 1842. Sobre a produção historiográfica, além da produção clássica, temos uma produção com novas abordagens sobre o tema, principalmente nas últimas décadas do século XX, buscando situá-la no campo social, dando origem a monografias, dissertações e teses. São estudos que demonstram a natureza do seu caráter popular, os contornos de sua heterogeneidade marcada pela pluralidade de características, diversificadas e contraditórias, representando a confluência de fatores sociais, políticos e culturais, cujos matizes trazem a marca da natureza rebelde e de descontentamento de uma significativa parcela da população do interior maranhense, com destaque para os sertanejos.

A Balaiada na Historiografia Maranhense

Prof. Dr. Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus (UEMA)

: A Balaiada foi uma revolta popular que ocorreu na província do Maranhão entre os anos de 1838 a 1841, mas se estendeu até as províncias vizinhas do Piauí e do Ceará. Além de sua amplitude geográfica, também chama a atenção a diversidade de envolvidos nessa luta, a qual contou com livres pobres, escravizados, libertos e indígenas. Na historiografia a respeito desse movimento, historicamente, prevaleceu no imaginário da sociedade as impressões das elites contemporâneas ao movimento, condenando os balaios que levantaram armas para fazer valer os seus ideais de luta por acesso à cidadania, procurando romper com a condição de oprimidos e de exclusão social a que estavam submetidos desde os tempos coloniais. Entretanto, por meio de produções historiográficas revisionistas, as representações dos segmentos populares que participaram da guerra da Balaiada têm recebido ressignificações que os colocam como sujeitos históricos ativos, bem como seus atos entendidos como reações às opressões por eles sofridas. Esta comunicação é uma análise comparativa da historiografia sobre a Balaiada, com a apresentação de duas interpretações de obras opostas no que tange as ações dos balaios: a primeira é de Domingos José Gonçalves de Magalhães, publicada em 1848, que traz uma visão condenatória dessa revolta, e a segunda interpretação é um estudo feito pelo historiador Matthias Röhrig Assunção, em 1988, ano do centenário da Abolição da escravidão no Brasil, cujas pesquisas revisionistas apontam para a complexidade das ações dos balaios, não mais vistos como criminosos, mas como revoltosos que apresentaram as suas pautas políticas em um contexto delicado da construção da ordem imperial, com um ideal político que os insere nas lutas por cidadania.

Mesa-redonda 2: Balaiada: literatura e imprensa

Celebrar a Independência em tempos de Balaiada no Maranhão

Prof. Dr. Marcelo Cheche Galves (PPGHIST/UEMA/Bolsista Produtividade CNPq)

Os anos seguintes à Independência do Brasil assistiram à construção do estado imperial, também do ponto de vista simbólico. Na província do Maranhão, incorporada em 28 de julho de 1823, os registros na imprensa conformaram uma memória, por vezes desconfortavelmente acionada, da tensa incorporação da província ao Império do Brasil, em meio à atuação de redatores “portugueses” e “brasileiros” nesse difícil exercício de conciliação inicial entre perspectivas distintas de passado. Com a eclosão da Balaiada, essas questões ganharam novos contornos, que aproximaram/contrapuseram a evocação de um passado nacional unívoco e o presente de convulsão política e social - explorar estas tensões é o propósito desta comunicação.  Para tanto, a ideia é analisar os periódicos impressos em São Luís do Maranhão entre 1838 e 1841, com foco nas referências ao 28 de julho e ao 7 de setembro.

Cultura política, mobilização popular e liberalismo entre a Setembrada e a Balaiada: um roteiro de investigação (1831-1841)

Profa. Dra. Raissa Cirino (PPGHIST/UEMA)

Como fato histórico, a Balaiada garantiu seu lugar na história oficial do Império, sendo por muito tempo analisada por uma perspectiva de "cima para baixo" e focando a restauração da ordem social pelas autoridades imperiais. Diferentes pesquisas já têm se preocupado em analisar a atuação e os projetos políticos a partir dos setores populares e alguns de seus líderes. Para tanto, é fundamental considerar as práticas e aprendizagens políticas, bem como a circulação de ideias, em escalas temporais e territoriais mais amplas do que o evento em si. Nesse sentido, propomos um roteiro de investigação que abarca o "Norte" durante uma década (1831 a 1841), indicando como a Setembrada e seus desdobramentos durante a Regência se articulam a diferentes eventos e agitações políticas da região. A documentação oficial do Conselho Presidial do Maranhão, bem como os ofícios de diversas autoridades, recebidos pelo governo provincial, dão indícios de que a mobilização popular vivenciada na província se sucedia a partir da paulatina formatação de uma cultura política popular, cujo ápice se deu na Balaiada. A partir dessa hipótese, temos a oportunidade de refletir não apenas sobre a escrita da história, mas também sobre perspectivas de ensino de história, memória e cidadania.

Imprensa e Ensino da História: A Balaiada em Foco

Prof. Me. Antônio Guanacuy Almeida Moura (IFMA)

O propósito da discussão a ser levada à mesa é refletir sobre o papel da imprensa, destacando a importância de jornais que foram digitalizados como a "Chronica Maranhense" e o "Bem-te-vi", na compreensão e ensino da Balaiada. Pretendemos explorar como esses recursos podem aprimorar nossa percepção acerca do evento, oferecendo uma visão mais holística e detalhada. Além disso, debateremos as vantagens e obstáculos ao usar impressos digitais como instrumentos pedagógicos no ensino da História. Muitos especialistas têm ponderado sobre a relevância dos jornais, já que, além de relatarem fatos históricos, eles apresentam perspectivas, opiniões e contextos essenciais para entendermos o período em que foram produzidos. Ao aliar historiografia, imprensa e ferramentas digitais, abrimos caminho para redefinir e enriquecer como ensinamos e assimilamos a História. Essa intersecção pode conduzir a novos entendimentos, tornando o processo educacional mais cativante e relevante para os alunos. Assim, com o advento do digital, podemos explorar fontes diversas, incluindo jornais digitalizados, que podem nos conectar ao passado e ampliar nossa visão sobre eventos históricos, como a Balaiada.

Mesa-redonda 3: Balaiada:  gênero e etnia

O “exército invisível” da Balaiada: as mulheres “bem-te-vis” no cenário da revolta

Profa. Dra. Elizabeth Sousa Abrantes

A guerra da Balaiada foi o mais extenso e duradouro conflito da história das revoltas rurais no Maranhão, mobilizou cerca de 10 mil homens, os quais não estavam sozinhos nessa guerrilha, pois contou com a participação de mulheres e crianças que constituíam o chamado “exército invisível”. Essa participação foi desconsiderada pelas autoridades da época, que subestimaram o potencial da participação desses grupos, não enfatizando sua presença nos registros históricos, partindo do pressuposto de que a guerra é um evento viril, que envolve os sujeitos masculinos. A historiografia oficial também negligenciou essa participação, preocupada em destacar as lutas dos sertanejos e dos sujeitos escravizados, sem a devida atenção a uma característica importante da mobilização dos rebeldes, que foi sua organização em acampamentos, onde montavam barracas e podiam se estabelecer por algum tempo até que fossem obrigados a fugir ou enfrentar as forças militares do governo. Nesses acampamentos estavam presentes centenas de mulheres e crianças, ocupando diferentes funções, além daquelas consideradas “naturais” ao sexo feminino, como os cuidados com a alimentação e as crianças. Algumas dessas mulheres capturadas estavam fazendo o trabalho de espiãs ou de “correios”, levando mensagens entre os acampamentos rebeldes. Este estudo aborda indícios de participação feminina das camadas populares no palco da guerra da Balaiada, as mulheres sertanejas, aqui denominadas de “bem-te-vis”, a fim de conhecer suas diferentes formas de atuação no conflito e o impacto dessa guerra em suas vidas.

Antes as armas que o jugo: indígenas do Ceará na Balaiada

Prof. Dr. João Paulo Peixoto Costa (IFPI)

As duas primeiras décadas de Brasil independente foram especialmente danosas para os povos indígenas. Aqueles originários das antigas vilas pombalinas viram suas prerrogativas serem praticamente todas suprimidas, em troca de uma condição cidadã precarizada. Após suas lideranças perderem os cargos nas câmaras municipais e as patentes nas ordenanças, e com o aparato de proteção às suas terras bastante flexibilizado, para muitos, restava apenas a dispersão geográfica e a revolta. Parte significativa dos que viviam na serra da Ibiapaba, especialmente nas “matas de São Pedro” (ou melhor, em Baepina – atual Ibiapina) aderiram à Balaiada. Esta comunicação terá como base as atuações bélicas indígenas no conflito e as experiências compartilhadas com outros grupos – com destaque para o reduto de Frecheiras, no Piauí. Refletiremos sobre as ações indígenas em meio a mudanças que ameaçavam suas condições de trabalho e suas terras, amparados em sua cultura política e em seus projetos de país, com fortes laços com a monarquia e expectativas de uma cidadania igualitária.

Ser homem negro e ser homem branco: virilidades no século XIX em tempos de revolta

Prof. Dr. Jakson dos Santos Ribeiro (UEMA)

Os conceitos de homem herói e homem anti-herói circulam no contexto da Balaiada, de forma expressiva, principalmente por causa da dimensão dos sujeitos envolvidos, homens  negros e brancos. Nesse sentido, nota-se que a composição das narrativas abre perspectivas para constituição dos conceitos que giram em torno desses homens. Por essa ótica, o predomínio de um discurso qualificando o homem branco e desqualificando o homem negro, nos sinaliza um caminho de reflexões sobre os tipos de virilidades costuradas pelos fios do discurso presentes no contexto da Balaiada. Nesse compasso, a própria conceituação de homem, masculinidade e virilidade são possibilidades para serem capturadas no contexto do movimento experienciado em toda sua geografia. Dessa forma, à luz das fontes e narrativas estabelecidas, podemos compreender o quão os discursos produzidos para se pensar o herói e anti-herói, também nos abre caminhos para problematizar o entendimento sobre essas masculinidades sublinhadas no terreno dos discursos, sobre as figuras que foram emblemáticas no cenário da revolta dos balaios.  

Mesa-redonda 4: Balaiada: ensino e religião

“Página negra da História”: a Balaiada nos documentos eclesiásticos do Bispado do Maranhão.

Prof.ª Dra. Joelma Santos da Silva.

A Balaiada, revolta popular e social que eclodiu no interior do Maranhão e se expandiu para as províncias do Piauí e Ceará, ocorrida entre os anos de 1838-1841, foi marcada pela forte presença de escravos, negros, forros, vaqueiros, camponeses, e artesãos, além de profissionais liberais e intelectuais ligados ao partido bem-te-vi. Inserida numa conjuntura de lutas políticas relativas à construção do Estado Nacional Brasileiro, a Balaiada sintetiza as insatisfações sociais, econômicas e políticas dos grupos subalternos em contraposição aos interesses de proprietários, autoridades provinciais e imperiais, responsáveis pela dura repressão ao movimento. A religião não esteve a parte da revolta, tanto do lado dos balaios que afirmavam a defesa da Igreja Católica em proclamações e ofícios, como fazia Raimundo Gomes, um dos principais líderes; quanto do lado do alto clero que condenavam o movimento como uma “página negra da história do Maranhão”. Nesse aspecto, essa pesquisa irá apresentar os discursos da Igreja Católica do Maranhão sobre a revolta, a partir dos documentos eclesiásticos produzidos no período, analisando os seus argumentos de desqualificação política, bem como o impacto que ela teve no clero e na organização eclesiástica do Bispado.

As Representações da Balaiada na sala de aula e nos Materiais Didáticos

Prof. Dr. Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus

A Balaiada, após a sua eclosão e ser vencida pelas forças legais do Império do Brasil, prevaleceu no meio social as versões conservadoras que puseram os balaios na condição de baderneiros e fadados ao mundo do crime. No entanto, estudos revisionistas têm mostrado outras interpretações nas re(ações) dos revoltosos, os quais se manifestaram contra as exclusões dos processos políticos e os maus tratos recebidos de seus governantes. Acerca do seu ensino, a História do Maranhão há décadas enfrenta o problema da falta de materiais didáticos apropriados, atualizados e em sintonia com as exigências legais, e que discutam as singularidades da Balaiada, como a participação de caboclos, artesãos, vaqueiros, pequenos lavradores, negros alforriados, índios e escravos, os quais protagonizaram uma luta de resistência por cerca de dois anos em grande parte do território maranhense. E, recentemente, com a implementação do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), os conteúdos específicos da História do Maranhão deixaram de ser exigidos. Assim, temos por objetivo apresentar as representações da Balaiada presentes nos materiais didáticos que circulam ou já estiveram presentes e, até mesmo são usados nas elaborações das aulas de História do Maranhão.

Um relato de experiência com as narrativas da Balaiada no ensino de história na região do Baixo Parnaíba Maranhense

Prof. Me. Ronilson de Oliveira Sousa (SEDUC, São Bernardo, MA.)

O presente relato de experiência foi desenvolvido no ensino de História, a partir de um trabalho coletivo com alunos e alunas de uma escola de Ensino Médio, em São Bernardo (MA). As atividades tiveram como objetivo compreender as narrativas sobre o movimento da Balaiada (1838-40), considerando as memórias e a tradição oral compartilhada a partir da ancestralidade negra, que guardam vestígios de um passado esquecido e silenciado. Nas atividades, os estudantes foram instrumentalizados a lidar com fontes orais produzidas por meio de gravação de entrevistas realizadas na cidade e em comunidades rurais, colhendo depoimentos da tradição oral em relação aos vestígios da guerra da Balaiada, ocorrida no Maranhão. Desse modo, destaco a importância do uso da história oral no processo de ensino e aprendizagem dos estudantes, refletindo sobre o passado e o presente, por meio de relatos, troca de experiências entre os alunos e moradores. Esse processo foi uma oportunidade de promover uma aula de história envolvente e provocadora, que permitiu aos estudantes perceberem nas memórias herdadas, preservadas por grupos descendentes dos moradores mais antigos, sendo, portanto, a memória entendia nesta pesquisa a partir do presente, e em parte herdada, em uma estreita relação entre a memória e o sentimento de identidade tanto individual como coletiva, tendo como elementos acontecimentos, pessoas e lugares.

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